sábado, 29 de dezembro de 2012

                                               
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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

20 ANOS DO ALBUM "THE CHRONIC" - DR. DRE UM GRANDE PRODUTOR



Lançado em meio aos distúrbios raciais que abalaram Los Angeles, disco é o marco que mudou a história do rap, desbancando o rock e o pop das paradas de sucesso



O Oeste estava selvagem. Em dezembro de 1992, Los Angeles ainda se recuperava dos distúrbios raciais acontecidos meses antes, cujo estopim fora a absolvição dos policiais que espancaram Rodney King. Lojas foram roubadas e incendiadas. Carros foram virados. Cinzas estavam por toda a parte. Convocada pelo governo, a Guarda Nacional mantinha-se no local e patrulhava a área de South Central, onde boa parte dos conflitos aconteceu, deixando um saldo de 53 mortos, duas mil pessoas feridas e prejuízos de US$ 1 bilhão.

Foi nesse esquentado contexto que chegou às lojas “The chronic”, de Dr. Dre, o disco que mudaria a história do rap, ajudando a transformar o gênero no som dominante dos EUA nas décadas seguintes, desbancando tanto o rock quanto o pop. Produto das ruas daquela cidade, cheio de malandragem, palavrões, atitudes radicalmente incorretas, principalmente em relação às mulheres, e embalado por um preguiçoso e irresistível balanço funky, ele gerou um subestilo — o polêmico gangsta rap — e surpreendentemente conquistou o país partido, chegando ao topo da parada da “Billboard” com suas três milhões de cópias vendidas, unindo garotos brancos dos subúrbios e a juventude negra dos guetos numa mesma batida. De quebra, “The chronic” — cuja capa fazia uma alusão a uma seda de enrolar cigarros alternativos — colocou o rap de LA no mapa, desbancando o reinado de Nova York, criando uma rivalidade que seria resolvida muitas vezes a bala, e revelou aquele que seria um dos mais celebrados e controvertidos artistas do microfone: Snoop Dogg.
Vinte anos depois, “The chronic” é considerado uma espécie de “Thriller” do hip-hop — palavras do jornal “La Weekly” (em recente entrevista à publicação, o rapper Kanye West comparou o disco a outro clássico, “Songs in the key of life”, de Stevie Wonder). As revistas “Time” e “Rolling Stone” incluíram-no em suas listas dos cem mais importantes discos de todos os tempos. Não é exagero, portanto, enxergar também em Dre — que se tornaria o mais importante produtor do estilo — o seu Quincy Jones. A partir dali, ele criaria um império, com sua própria gravadora (a Death Row Records, da qual se desligaria depois de forma litigiosa), criando ídolos como Eminem e 50 Cent. Seu toque de Midas foi consolidado na semana passada, quando Dre, aos 47 anos, encabeçou a lista da revista “Forbes” dos artistas mais bem pagos de 2012, com US$ 110 milhões, muitos dos quais conquistados graças à sua linha de potentes fones de ouvido, Beats By Dre.
— “The Chronic” é um marco, um disco extraordinário, que trazia um outro tipo de negritude, cujo discurso não pleiteava uma forma de poder, como poderia se imaginar naquele momento, mas assumia uma forma de poder diferente — analisa Marcelo Yuka. — Até aquele momento, o forte eram o som e as letras politizadas do Public Enemy, que vinha de Nova York. Dr. Dre e sua turma fizeram um contraponto, com uma atitude mais moleque, do poder vindo do sexo, das drogas e do dinheiro.
Obviamente, “The chronic” — que ganhou um Grammy em 1993, pela música “Let me ride” — não se sustentava apenas na postura marrenta de Dre e sua turma. Sua produção levou a criação do rap e do hip-hop a um outro patamar. Em vez de apenas usar samples (trechos de outras músicas, algo bastante comum no gênero), Dre gravou sons de grupos como Parliament e Funkadelic (do mestre George Clinton), e de artistas como Donny Hathaway. Depois fez com que músicos de estúdio tocassem aqueles trechos ao vivo no estúdio. O resultado foi um som orgânico, com batidas secas, marcantes, embaladas por camadas de sintetizadores melódicos e redondíssimas e profundas linhas de baixo. Aquele som foi batizado de G-funk (de gangsta funk).
— Esse é o disco mais importante da história do rap e um trabalho para ser estudado por qualquer um interessado nesse som — diz Zegon, DJ e produtor, que já trabalhou com Planet Hemp e Marcelo D2 e faz parte do grupo de hip-hop N.A.S.A. — O que mais chama a atenção é sua aparente simplicidade. É impressionante a forma como o Dr. Dre trabalhou, subvertendo os samples, tocando tudo de novo ao vivo. Isso foi revolucionário para o rap, dando ao disco uma sonoridade única, meio eletrônica, meio orgânica. E eu morava em Los Angeles quando aconteceram os distúrbios de 1992. Entendo bem esse contexto onde ele surgiu.
Por conta dos litígios entre Dre e a Death Row (em 1996, ele fundou outra gravadora, a Aftermath), “The chronic” — que já ganhou diversas reedições — não deve ter um relançamento em comemoração aos seus 20 anos, como seria de se esperar. Ano passado, Dre obteve na Justiça um vitória contra sua ex-gravadora, impedindo o lançamento digital do disco no iTunes. Para os fãs, vale o que foi gravado e ainda circula em formato de CD e vinil. Milionário, Dre lançou apenas mais um álbum, “2001”, em 1999. Desde então, trabalha no esperado “Detox”, que anuncia como seu disco final (e que, para alguns, possivelmente nunca vai ser lançado).
— “The chronic” é um disco perfeito, no qual música e história dialogam em sintonia — diz Rodrigo Brandão, do grupo paulistano Mamelo Sound System. — É difícil acreditar que o Dr. Dre ainda tenha motivação para tentar superá-lo. Foi um trabalho que marcou uma época.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/the-chronic-do-dr-dre-completa-20-anos-6940280#ixzz2EIxImgSn
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